Site criado para comunicação entre ex-seminaristas franciscanos dos Seminários São João Batista de Luzerna - SC e Seminário Santo Antonio de Agudos -SP.
terça-feira, 27 de fevereiro de 2018
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
FREI SOLANO HUBNER
Uma
das primeiras visitas que recebi, depois de vários dias no seminário, foi a de
meu pai que me disse que ele e a mãe rezavam por mim. Tomamos as escadarias e
corredores do vasto seminário, para que meu pai conhecesse as salas de aulas,
Sala Magna onde aconteciam palestras e onde se via televisão, sala de jogos,
biblioteca, dormitório, sala de pesquisa, laboratório, refeitório, instrumentos
musicais, campos de futebol de salão e de campo, basquete, piscina, refeitório,
capela, gruta, entre outros espaços daquele lugar paradisíaco.
Quando
passamos pelo saguão central, vimos um padre professor, pensativo, mãos atrás
das costas a observar a paisagem emoldurada pelos morros do outro lado do Rio
do Peixe. Meu pai se sentiu comovido com aquela cena.
Expliquei
que não era tristeza e que aquele semblante sério era aparente, casualidade de
reflexões diárias cavadas na circular em frente ao museu do seminário.
Realmente,
Frei Pe. Anselmo Hugo Scheitzer, nas aulas de história e inglês, abria o
coração e era simplesmente espetacular ouvi-lo animado, vivenciando o conteúdo das
matérias que lecionava. Era o nosso “Behind”, apelido que a turma lhe deu, de
tanto ouvir a frase, “benhind the door”.
Os
anos seguintes revelariam o tamanho do ideal de Frei Anselmo e a sua força de
ação na evolução do espírito de todos aqueles que foram seus alunos. Ao lado da
brandura de Frei Pe. José Lino Luckmann, lá estava um verdadeiro exemplo de
amor e vocação franciscana. Porém nossos contatos naquele ano restringiram-se
as aulas. Fora delas nossos caminhos se cruzavam num ‘bom dia’ ou ‘boa
tarde’. Na realidade parecia que Frei Anselmo não simpatizava muito com
minha exagerada e regular espontaneidade.
Coisa
engraçada a vida... Nem suspeita passava pela cabeça de todos, tão tranquilos e
róseos os dias repletos de esplendor marginados de harmonia que nos concedia a
vida, da dor que a fatalidade nos reservava.
Chamado
por Deus, parte Frei Solano, Orientador
do seminário, rumo ao encontro marcado no alto dos céus, depois de vários meses
adoentado em Curitiba.
A mórbida
morte silenciou o refeitório, parou os risos e encardiu o ar da capela com um
cheiro de flor de velório. E os risos? O truco, o sangue fervendo nas peladas,
a ideia correndo nos campos que deixara em casa, pensando em nunca mais voltar?
Nunca mais. A presença deste pensamento arrefeceu a beleza imperturbável da
alegria do meu coração adolescente. Senti-me entristecido, amortalhado com
aquela música fúnebre.
Frei
Solano, adeus. Muitos choraram na concelebração da missa de despedida. Os seminaristas
falavam de um frade carismático, humano, disciplinado e companheiro. Difendi
Masson, da turma de 1971, contou que as repreensões, quando necessárias, as
vezes eram de varadas simbólicas, até bem humoradas, que não chegavam a
encostar nos alunos que teimavam em sair da linha.
Na
capela lotada, familiares de Frei Solano, vindos do Paraná, cansados pela longa
viagem, pareciam incrédulos com aquela atmosfera de despedida e de fé. Entre
eles um menino, sobrinho de Frei Solano, perdia o olhar no infinito, na certeza
de que não mais ingressaria no seminário...
O
entardecer baixava a sepultura, juntamente com o frade Orientador, ex-hospede
dessas plagas, que definitivamente desenhava a ponto final na história de sua
vida.
Para
quem conhece a doutrina cristã, a perplexidade, a amargura não tem razão de
existir perante o drama profundo que se descortina no sofrimento da morte.
Sentimos a sórdida e mórbida ausência de quem amamos, mas nos conforta a força
da lei divina que providencia as alegrias nessa terra e as estende,
generosamente por concessão, à luz eterna.
Todas
as vanglórias viraram um punhado de cinzas e as pernas pareciam pesar excessivamente
na saída do cemitério de Joaçaba. Andando ao lado de Frei Anselmo, paramos na
subida que levava à saída, para observar a dolorosa impressão de tristeza que a
cruz do portal causava.
De
cabeça erguida, com o vento soprando enfermo pelas rajadas de emoção que
enregelavam o coração, depois de um dia obscuro e melancólico, Frei Anselmo
calmamente louvou a Deus pelo convite a vida e enigmaticamente balbuciou: “Dentro
em breve também entrarei por baixo desta cruz para não mais voltar.”
Um
calafrio me passou pela espinha e aquelas palavras ficaram retumbando por algum
tempo na minha cabeça.
Agora,
distante daquele dia de há 46 longos anos, abro os olhos com força, mas a
tristeza ainda permanece e me angustia.
Aquela cruz era um flagelo.
E sofro.
Aquela cruz era um flagelo.
E sofro.
O nome
de batismo de Frei Solano era Miguel Hubner.
Nome
religioso; Frei Solano Hubner, ofm.
Nasceu
na cidade de Selbach, Rio Grande Do Sul.
Seus
pais eram Verônica e Alberto Hubner, de origem alemã.
Faleceu
com 2 de junho de 1972.
Seu
corpo está enterrado em Joaçaba SC.
E
aquele menino, retornou no ano seguinte, em 1973. Tarcísio Hubner não encontrou
mais seu querido tio. Mas seguiu em frente nos estudos, talvez com a impressão
de que ainda poderia encontra-lo, algum dia qualquer, no final de algum daqueles
infindáveis corredores do Seminário de Luzerna.
domingo, 18 de fevereiro de 2018
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018
FREI DANILO MARQUES
Nos primeiros dias do ano letivo de
1974, a vida brilhou intensamente no alto do morro da Vila de Luzerna. Ao
chegar das férias, depois de colocar as roupas no armário, fui dar uma voltinha
pelo pátio para matar as saudades de casa e procurar o novo frade, recém
chegado.
Perto do jardim do convento parei para
observar a imensa construção. Era uma casa fantástica. Para um novato não era
difícil se perder nos infindáveis corredores e escadarias. Tratava-se de um
belo seminário, plantado ao centro de uma cadeia de montanhas, no Vale do Rio
do Peixe, um sulco interminável que se estendia por uma paisagem encantadora.
A velha piscina, entusiasmo de toda a
meninada, destacava-se a beira do bosque, oferecendo um visual de lindos
desenhos e contrastes da água azul com o verde musgo das árvores, sob as quais
se fazia churrasco no dia de São Francisco. Era um lugar cheio de beleza, limpo
pela enxada dos seminaristas, expressão notável da disciplina das horas de
trabalho, mas alegres pela fraternidade que nos unia.
Naquele lugar sentia-se uma força
superior, misteriosa, de um mundo diferente.
- Ei, você viu o tal de Frei Danilo, o
frade que chegou ontem?
- Parece que está no portão principal.
Uma roda de alunos escondia o misterioso
rosto. Ouvia-se de longe as gargalhadas e uma cabeça branca se agitando no
centro do círculo.
Hoje sei, que ao me aproximar daquele
frade, algo de maravilhoso aconteceu na minha vida. A cada passo que dava em
sua direção, me aproximava de um dos maiores exemplos de bondade e pureza,
qualidades somente encontradas em santos frades, aqueles incríveis educadores
do seminário São João Batista, meus heróis para sempre.
- Muito prazer, sou Frei Danilo, tenho
quarenta e três anos, gostaria, amiguinho, de tirar uma carta?
- Mas o senhor é mágico?
Realmente, foi uma doce mágica encontrar
Frei Danilo nesta vida. Foi nosso
professor, Diretor, amigo do peito de todos os seminaristas, companheiro de
brincadeiras, pai espiritual, “pequeno príncipe” que a todos cativava com a doçura
da compreensão e do amor.
- “Essa negra Fulô, essa negra Fulo”.
-Quem quer declamar “Essa Negra Fulô”, de
Jorge Lima?
Além de bom na mágica (sempre tive a
expectativa de vê-lo tirar um coelho do chapéu), era um poeta de mão cheia.
Gostava de ensaiar teatro com os alunos, montar peças interessantes e envolver
a todos na literatura brasileira.
Grande poeta, exímio esgrimador de
estrofes, sonetos e versos, mas também pelo excelente trato que dispensava aos
seus seminaristas, com palavras e gestos que demonstravam amor e dedicação por
uma causa que hoje compreendo melhor, a causa do Reino de Deus.
Sem dúvida, a vida de todos brilhou
intensamente no alto do morro da Vila de Luzerna.
Fulgurou em meio a garotada, naquele
belo ano de 1974, um espírito criativo, um líder inteligente, alma de criança,
olhos do céu, cometa fulgurante...que hoje me deixa em silêncio, pensativo,
achando que ainda vou encontra-lo por aí, em meio a uma mágica e outra.
E, no torvelinho da correria deste ano
de 2018, quando me quedo a pensar, surge uma forte saudade e, pedindo-lhe mais
uma mágica, eis que surgem lembranças daquele sorriso que me acalma e consola.
- Mais ênfase Techio, é fundamental
viver a poesia!
E repetia para que eu pudesse copiar à
perfeição: “Essa negra fulô, essa negra fulô”.
(Ó Fulô! Ó Fulô! Cadê, cadê teu Sinhô que
Nosso Senhor me mandou? Ah! Foi você que roubou, foi você, negra fulô? Essa
negra Fulô!)
sábado, 10 de fevereiro de 2018
O MUSEU – SEMINÁRIO SÃO JOÃO BATISTA – LUZERNA - SC
O museu escolar, que se encontra no
seminário são João Batista, de Luzerna, foi fundado pelo professor, de saudosa
memória, Frei Miguel Witter, em Rio Negro, Estado do Paraná. Frei Miguel foi
professor de ciências naturais. Seu grande amor pela citada ciência fez com que
colecionasse inúmeras amostras de animais, em boa parte já extinta.
Frei Miguel Witte nasceu em
Osnambruck, Alemanha, em 27 de julho de 1885. Passou sua vida como sacerdote e
professor, no seminário São Luis de Tolosa, em Rio Negro, onde permaneceu até o
seu falecimento, (embora já por vários anos não mais lecionasse), em 20 de
janeiro de 1967.
Oficialmente e Museu Escolar começou a
funcionar a 11 de fevereiro de 1926, segundo consta no primeiro livro de
registro de assinaturas de visitantes.
Milhares de pessoas tiveram acesso a
visitação no seminário São Luis de Tolosa. Acima de 36 mil registros de
assinaturas se encontram assinalados nos vários livros de visita até o ano de
1968. No final de um desses livros de registros encontram-se notas declarando
que provavelmente nem a metade dos visitantes fez o seu registro nos livros.
Aos domingos e feriados o museu era um
local de um enriquecedor divertimento. Gente local, como de cidades vizinhas,
Curitiba, por exemplo, vinham aprender a amar os seres da natureza.
Em 1971, por motivos da venda do
seminário São Luis de Tolosa, o museu escolar, por decreto Providencial de
janeiro de 1971, foi transferido para o seminário São João Batista, em Luzerna
SC. Acrescenta-se ainda, que nesse respectivo ano de 1971, começou a funcionar
em Luzerna, no seminário, o ginásio completo, pois até esta data só funcionava
a 5* E 6* series. Consta na ata inaugural do livro de assinaturas, que Frei
Gregório Johnscher, OFM, foi encarregado da transferência, como também da nova
instalação, no seminário São João Batista.
Num sábado, dia 20 de março de 1971,
as 15.30 horas, reuniu-se a comunidade religiosa residente, os seminaristas,
com o Exmo. Sr. Coordenador Regional de Ensino, Almeida Lago; diretores de
estabelecimentos de ensino de Joaçaba e Luzerna, e outros visitantes, para a
inauguração do Museu Escolar dos Padres Franciscanos. Cento e trinta e cinco
assinaturas estão registradas no livro de visitas no dia da inauguração.
De 1971 até setembro de 1985, 13.068
assinaturas encontram-se nos livros de visita. Isso somado com as do Rio Negro,
temos aproximadamente 50 mil registros de visitas ao Museu Escolar dos Padres
Franciscanos, no espaço de 50 anos, sem contar as visitas que deixaram de
inscrever seu nome no respectivo livro.
Por que tanta curiosidade pelo Museu
Escolar?
Os motivos podem ser vários.
Certamente em primeiro lugar porque o museu conta com um acervo de peças muito
preciosas. Muitas espécies já estão quase extintas no nosso território pátrio.
Em números, estão catalogados 2.598 insetos, assim distribuídos. 1571
coleópteros, 882 borboletas; 33 arachinidios; 212 acrídios, etc. Além dos
coleópteros, o museu conta com 46 quadrúpedes; 101 pássaros,42 cobras, um
esqueleto humano e de partes de muitos animais, inclusive o maxilar de uma
baleia. Além disso, o visitante pode apreciar inúmeras espécies de madeiras,
cristais, minerais, etc.
Em segundo lugar, a grande procura
pelo Museu deve, por ser uma obra muito bem cuidada, sobretudo no tempo de Frei
Miguel que vivia pelo Museu. O que apresenta hoje é trabalho incansável desse
Frade, que mantinha um zelo apaixonado por tudo. As vitrines, a arrumação a arte
da montagem, tudo se deve ao espírito engenhoso e criativo de Frei Miguel.
Além desses motivos certamente outros
haverão, como, campo de pesquisa para estudantes que em todos os anos se servem
de seu cabedal para crescer no conhecimento da natureza; a distração recreativa
de pessoas que fazem do Museu um ponto quase que turístico, pois o seminário
São João Batista é arquitetonicamente uma obra de rara beleza de engenharia,
localizado ás margens do Rio do Peixe e da entrada da Amizade, SC 305, em
Luzerna.
Para a manutenção e conservação da
entidade mantenedora, que são os padres franciscanos, é cobrada uma taxa
simbólica. Quase todos os anos, na época das férias de fim de ano, Frei
Gregório Frei Gregório Johnscher vem de Agudos- SP. Para promover e rever a
conservação. A taxa cobrada é para essas finalidades. Diga-se de passagem que
Frei Gregório nutre um grande amor pelo museu. O mesmo também é responsável por
um grande museu no seminário Franciscano Santo Antonio de Agudos- SP. Se não
fosse o carinho e o cuidado dele talvez algumas peças já se teriam deteriorado.
Esperamos que Deus continue a dar forças e saúde para Frei Gregório e que o
mesmo possa continuar na manutenção dessa obra monumental.
*Frei
Francisco, de saudosa memória, foi professor e orientador em Luzerna – SC –
ARTIGO ESCRITO EM 1985.
O SEMINÁRIO DE LUZERNA FECHOU E O MUSEU FOI TRANSFERIDO PARA
AGUDOS – SP.
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