Cesar Techio
Economista – Advogado
cesartechio@gmail.com.br
Aproximando-se da morte, Francisco de
Assis acrescenta a última estrofe ao Cântico do Irmão Sol que havia composto e
pede aos seus confrades que o entoem em homenagem a Morte a quem com amor chama
de “Irmã”: “Louvado sejas, ó meu
Senhor, por nossa irmã a Morte corporal, à qual nenhum homem vivente pode
escapar...”. O segredo para tamanha serenidade na hora de partir é
simples. Francisco não acumulava dinheiro, poder, prestígio, bem no
prumo do que disse Jesus: “Abençoados os pobres de espírito, os mansos, os que
têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os
pacificadores.” Pouca gente leva a sério este ensinamento e por isso a maioria
das pessoas nunca está preparada para partir. O desespero normalmente fica por
conta das posses, ou melhor, da possessividade. Quanto mais se possui, mais se
teme perder. Mas, se não se possui nada, quando for a hora de partir, se estará
pronto, cantando como Francisco. O problema é que se vive confundindo bens
materiais, poder econômico e sucesso financeiro com bênçãos de Deus, sem se
perceber que a verdadeira prosperidade é a do ser e não a do ter; que todo o
desejo em ser especial é egoísta e que a viagem do ego gera o medo da partida.
Quem não carrega nada consigo sempre está
disponível para o novo, para o desconhecido. Assim são os franciscanos. Chutam
o ego e se enchem interiormente de um espaço vazio, no qual não cabe bens,
riquezas, poder, superioridade. O amor pela natureza e pelas pessoas, a
celebração pela vida e a comemoração pela simplicidade ocupa o espaço interior
destes sucessores de Francisco. Por isso, quando partem, vão felizes.
Dormindo em rede nordestina, com barbas grisalhas e roupas surradas, um
franciscano excepcional defendeu entre nós, com grande força moral, a mãe natureza,
a mãe terra, a preservação do meio ambiente, a dignidade do ser humano. Nos
cursos de teologia abertos ao povo deu exemplo de vida a quem teve olhos para
ver e ouvidos para ouvir. Cumprida a missão, pediu transferência para Curitiba
para tratamento de saúde (cardiovascular). Vai da mesma forma como chegam todos
os franciscanos: sem nada para carregar (E disse-lhes Jesus: “Não leveis nada
para o caminho: nem cajado, nem alforje, nem pão, nem dinheiro, e não leveis
duas túnicas. Quando entrardes em alguma casa, ficai nela até partirdes dali.
Se alguns não vos receberem, ao sair dessa cidade, sacudi o pó dos vossos pés,
como testemunho contra eles” Lc 9, 1-6).
Em rápida conversa, me confidenciou que o
exemplo que deixa por onde passa, é o de ficar sempre do lado da verdade e o de
ser fiel até o fim: “Isso faz amigos e inimigos, ser fiel tem a ver com fel, é
amargo, mas é o caminho”. Dionísio Ricieri Morás me deixa a mesma impressão que
tenho de Francisco de Assis: a de um ser humano que sabe trazer qualidade de
consciência, que sabe introduzir a mensagem de Jesus Cristo na vida comum do
povo sem a pretensão de estar fazendo algo de especial, apenas cumprindo um
simples dever: "Ide a todo mundo e pregai o Evangelho a toda
criatura" (Mc 16,15). Por isso é um pregador extraordinário, que deixará
saudades. Que ao partir não sacuda a poeira dos pés e ore por todos nós.
Pensamento da semana: “Viver é sempre
dizer aos outros que eles são importantes. Que nós os amamos, porque um dia
eles se vão e ficaremos com a impressão de que não os amamos o suficiente.“