quarta-feira, 1 de junho de 2011

IGREJAS: NÃO SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM

Cesar Techio
Economista – Advogado - cesartechio@gmail.com
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São valiosas as preleções de Leonardo Boff em favor da vida, da justiça e do planeta terra. Como ex-professor de teologia de meus ex-colegas seminaristas, intensificou uma linha de pregação voltada a teologia da libertação, na qual, a dignidade da pessoa humana deve obrigatoriamente ser a pedra angular de toda a construção teológica. E tem razão. Jesus não veio a terra para fazer turismo, senão, teve como centro de suas atenções, de seu esforço e sacrifício na cruz, o homem. Jesus veio para salvar o homem. A partir desta realidade, não se cansa de criticar, acidamente, as orientações teológicas e de política religiosa adotadas pelo atual Papa Ratzinger, ex-prefeito da Congregação para Assuntos da Fé, posto usado durante a idade média pelo comando inquisitorial que durante quase um milênio, espalhou terror pelo mundo, matando inocentes em nome da fé. Ratzinger, seu professor no doutorado, em Roma, lhe impôs “silêncio obsequioso”, durante o auge da pregação da teologia da libertação, o que redundou no seu desembarque da ordem franciscana. A liberdade de manifestação falou mais alto ao apóstolo franciscano. Partindo deste quadro, não me parece que Jesus Cristo teve planos para criar congregações ou igrejas na forma das que conhecemos hoje: condicionadoras, impositivas, estruturadas em torno do dinheiro dos fiéis, pecúnia nem sempre aplicada em projetos de caridade.

A verdade é que Leonardo Boff, na condição de teólogo e sacerdote romano, caiu fora dos condicionamentos absurdos que a igreja católica lhe impunha e hoje é um cristão realizado e feliz. Creio que uma pessoa feliz não precisa saber nada sobre teologia. Sua felicidade pode ser tão plena que ela não tem qualquer necessidade de barganhar com Deus, pedindo isso ou aquilo ou orar por bens materiais, poder, influência, dinheiro, saúde... Na providência divina precisamos apenas ter certeza. A certeza em Deus corta pela raiz o negócio dos vendilhões dos templos e gera profunda felicidade, geradora de gratidão, compaixão e caridade. Constituídas por pessoas, as igrejas que não possuem compromisso sério com projetos sociais, humanitários e de caridade também não podem ser levadas a sério. O dízimo bíblico não pode servir apenas para enriquecer ou mesmo para manter as igrejas e seus líderes, mas, boa parte dele, para a criação e execução de projetos voltados ao resgate da dignidade dos próprios fiéis e das pessoas carentes e miseráveis.

A desculpa de que isso é responsabilidade exclusiva do Poder Público não é cristão nem biblicamente aceitável. Leonardo Boff olhou para a sua igreja, viu a coisa toda e caiu fora sem fazer barulho. É isso que eu recomendo a você. Olhe para a sua igreja. Investigue o compromisso que ela tem com o ser humano, quais os projetos sociais e de caridade que ela possui. Veja se os princípios cristãos são vividos na prática pela própria igreja, pois em primeiro lugar é ela e seus líderes quem devem dar o exemplo. Quando Jesus disse que o homem não pode viver só de pão, também quis dizer que o homem também necessita de pão para viver. Sempre é bom lembrar que a Obra do Senhor é a sua igreja, que somos todos nós: "Não sabeis vós que sois templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? (1 Co 3.16). Assim, se somos Templo do Espírito Santo, é justo que o dinheiro do dízimo das igrejas também sejam destinados à Obra, que em última instância se constitui na Obra Viva, ou seja, nos próprios fiéis, especialmente os necessitados: “O que fizerdes ao menor dos meus irmãos, a mim o fazeis”. (Mt 25,40). Se na sua igreja (seja qual for) não existem projetos humanitários e de caridade, caia fora sem fazer barulho. Busque viver os princípios cristãos consigo mesmo e engaje-se em comunidades que vivem um cristianismo autêntico. Pense nisso.

Pensamento da semana: “Louvai e bendizei ao meu Senhor. E dai-lhe graças. E servi-o com grande humildade”. Francisco de Assis.