quarta-feira, 10 de agosto de 2011

BILL GATES E FREI HENRIQUE




Cesar Techio
Economista – Advogado
techio@concordia.psi.br


A Fundação Bill & Melinda Gates investe bilhões de dólares no combate a miséria e doenças em países pobres e tem como uma das suas metas melhorar o ensino público nos Estados Unidos. Numa entrevista ao The Wall Street Journal, reproduzido na revista Veja, edição 2228, de 03 de agosto de 2011, Bill Gates deixa transparecer insatisfação com os baixos resultados de seus investimentos. A fundação busca eficácia máxima, mesmo assim não se observou impactos significativos nas atividades desenvolvidas. O problema, a meu ver, reside na idéia da própria filantropia enquanto sistema de doação a entidades ou causas. A simples doação sob o ponto de vista de resultados concretos relativamente a objetivos sociais e humanitários é ofensiva, na medida em que cria a psicologia do dependente e mostra a ele a própria incapacidade para resolver os problemas de sobrevivência. Com o tempo, o “beneficiário” cria aversão ao “benfeitor”, pois a cada doação fica clara a sua incompetência e os limites intransponíveis da miséria. Então, a solução para a inclusão social passa, imprescindível e necessariamente, por projetos auto-sustentáveis, ou seja, é preciso ensinar a pescar e não dar o peixe. Ou melhor, é preciso fazer com que as pessoas pesquem e consigam vender o peixe.

Em Bacabal, no Maranhão, na condição de economista enviado pelo extinto Centro de Documentação e Pesquisa da UNISINOS, diante das sucessivas e sangrentas invasões de propriedades pelos trabalhadores sem terra, busquei implementar um modelo cooperativo para aquisição de terras. Enquanto o Bispo Frei Pascásio Rettler abria os braços em frente a metralhadoras para defender as invasões de fazendas, seu sucessor, o Bispo Frei Heinrich Karl Johannpoetter inovou ao ver no cooperativismo a solução para o problema. É claro que esperar pelos políticos, especialmente do Maranhão, era uma estupidez, pois a perpetuação da miséria e das promessas era do interesse da classe política, considerando que com elas conseguia se reeleger infinitamente. Em conversa com Roque Lauschner, diretor do Colégio Pio Brasiliano em Roma, e técnico da FAO, Frei Henrique, como preferíamos chamá-lo, acolheu o modelo cooperativo como meio eficaz para por fim as invasões, à violência no campo e a dependência dos trabalhadores sem terra a todo e qualquer tipo de organização política.

Assim, com fundos da filantropia alemã, promoveu inicialmente a aquisição de fazendas, repassando-as para os “sem terras”, organizados juridicamente em cooperativas, as quais, na condição de pessoas jurídicas, re-adquiriam as propriedades para pagamento através de módicas mensalidades em 10, 15 ou 20 anos. Cada cooperativa buscava ocupar a terra e implantar algum tipo de agroindústria, visando agregar maior valor aos seus produtos. Passo seguinte, meu trabalho consistiu na orientação para a implantação de uma central de compras para a aquisição dos produtos das cooperativas, a serem comercializados em Teresina- PI ou em São Luis – MA. A adoção de fundos de capitalização para a aquisição de novas terras para os filhos dos trabalhadores sem terra integrava o modelo gestor de auto-suficiência econômica, social e política. Pessoas e instituições tentam fazer o melhor pela humanidade, como a Fundação Bill & Melinda Gates, mas sem o método certo. Ou falta vontade, inteligência, ética e competência no setor público, ou falta modelo eficiente no meio filantrópico.

Pensamentos da semana: 1- “Dilma age como quer a maioria da cidadania: preserva a dignidade do cargo e afasta firmemente os de conduta frágil. Tudo isso é novidade”. Cláudio Lembo, na revista Veja, edição nº 2229 que circula hoje. 2 - Ministério do Transporte, da Agricultura e agora Ministério do Turismo. Passando o Brasil a limpo.