Pontífice discursou em igreja de um dos bairros mais pobres de Nairóbi.
Discurso foi o mais crítico em sua viagem ao continente africano.
O Papa chega à igreja de São José Operário, em Nairóbi, nesta sexta-feira (27) (Foto: Giuseppe Cacace/AFP)
"Como não denunciar as injustiças que sofrem? A atroz injustiça da marginalização urbana. São as feridas provocadas por minorias que concentram o poder, a riqueza e esbanjam com egoísmo, enquanto crescentes maiorias devem refugiar-se em periferias abandonadas, contaminadas, descartadas", disse Francisco.
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O discurso, dedicado à urbanização, foi o mais crítico de sua viagem ao continente africano e complementou o pronunciado na véspera a favor do meio ambiente e da distribuição justa de recursos ante as agências da ONU em Nairóbi.
Diante dos fiéis de Kangemi, Francisco denunciou "novas formas de colonialismo" que relegam os países africanos a ser "peças de um mecanismo e de uma engrenagem gigantesca", que os submetem a pressões "para que adotem políticas de descarte, como a da redução da natalidade".
O pontífice criticou "a falta de acesso às infraestruturas e serviços básicos: banheiros, redes de esgoto, bueiros, coleta de lixo, luz, estradas, mas também escolas, hospitais, centros recreativos e esportivos, unidades artísticas".
"Negar água a uma família, sob qualquer pretexto burocrático, é uma grande injustiça, sobretudo quando se lucra com esta necessidade", lamentou.
Também condenou a "injusta distribuição do solo (...) que leva em muitos casos famílias inteiras a pagar aluguéis abusivos por residências em condições nada adequadas" e o "monopólio de terras por parte de 'promotores privados' sem rosto, que até pretendem apropriar-se do pátio das escolas de seus filhos".
Em janeiro, a polícia utilizou gás lacrimogêneo para dispersar as crianças que protestavam contra a concessão de um terreno de sua escola para um projeto imobiliário relacionado com um político, caso que provocou grande escândalo no Quênia.
"A hostilidade que sofrem os bairros populares se agrava quando a violência se generaliza e as organizações criminosas, a serviço de interesses econômicos ou políticos, utilizam crianças e jovens para seus negócios violentos", prosseguiu, antes de homenagear as "mulheres que lutam heroicamente para proteger seus filhos e filhas dos perigos".
Recordando o "direito sagrado aos 'três T', terra, teto e trabalho", o papa defendeu uma "respeitosa integração urbana".
"Nem erradicação, nem paternalismo, nem indiferença, nem mera contenção", disse.
Depois que uma religiosa do bairro criticou o fato de apenas 4% do clero de Nairóbi trabalhar nos subúrbios pobres, que concentram metade da população da capital queniana, Francisco fez um apelo a favor do envolvimento de todos os cristãos.
"Na verdade, me sinto como em casa", afirmou no início do discurso.
O pontífice foi muito aplaudido pelos fiéis, que permaneceram quase o tempo todo em um silêncio respeitoso, quandi seu despediu em suahili: "Mungu awabariki" ("Que Deus os abençoe").
FONTE: G1 - GLOBO.COM