domingo, 6 de dezembro de 2015

ROQUE LAUSCHNER - AGROINDÚSTRIA ou cooperativa





Por Rui Polidoro Pinto


O Rio Grande do Sul vive uma nova perspectiva de desenvolvimento agroindustrial, onde o leite, o biocombustível e a madeira aparecem como os focos principais dos investidores. É o momento de optarmos se queremos uma agroindústria cooperativa ou se vamos nos contentar em ser meros fornecedores de matéria-prima.


Não é a primeira vez que oportunidades como estas aparecem com força. Na década de 70, tivemos os casos da cana de açúcar, com o Pro-álcool; a soja e o próprio leite. O Pro-álcool foi um belo navio que passou bem devagar por toda a nossa costa, sem que nos atinássemos a construir um porto ou um pierzinho que fosse para permitir sua acostagem. O resultado é que ficamos à margem dos extraordinários resultados que o programa trouxe e que poderíamos ter explorado em muitos microclimas do estado, ao contrário de São Paulo, por exemplo, que cada vez mais se beneficia do Pró-Álcool.


Nos casos da soja e do leite a situação foi diferente. Chegamos a montar e explorar sistemas que foram fantásticos em escala e péssimos em gestão.


Agora, temos uma nova oportunidade e neste momento é imprescindível levar em conta os ensinamentos do saudoso Roque Lauschner.


 O padre jesuíta Roque Lauschner foi um dos maiores pensadores do agronegócio latino-americano. Em 1974, no Chile, ele escreveu “Agroindústria e desenvolvimento econômico”, onde expõe que os conceitos de setor primário, secundário e terciário são ultrapassados e que se deve ter uma visão do conjunto destes três elementos, de forma orgânica e integrados na agroindústria.


Mas, conforme recupera o professor Luís Humberto de Mello Villwock, da Unisinos, Lauschner não foi somente um homem de ideias. Seu pensamento e ação para o desenvolvimento do agronegócio no Rio Grande do Sul resultaram em ações concretas. No apogeu do Sistema Fecotrigo, juntamente com a Fidene/Unijuí, ele foi um dos articuladores para a criação da Centralsul, visando a industrialização de todo o agronegócio, passando pelos insumos, indo à transformação da soja, incluindo o domínio de canais de escoamento e distribuição. Na mesma época, também inspirou as cooperativas gaúchas, na fundação, em 1976, da CCGL - Cooperativa Central Gaúcha de Leite Ltda., que aproximadamente durante 20 anos tornou-se responsável por mais de 70% do leite coletado no estado. Neste período, o cooperativismo agropecuário foi responsável por 90% do capital social, 88% do patrimônio líquido e mais de 95% das receitas do sistema cooperativista como um todo.


A visão de Lauschner também foi responsável pela fundação, em 1993, da Associação Brasileira de Agribusiness – ABAG, da qual participaram os notáveis Roberto Rodrigues, Nei Bitencourt de Araújo e Odacir Klein. Tive o privilégio de participar deste grupo como primeiro vice-presidente da Abag.


Em entrevista ao jornal O Interior, em outubro de 1977, Lauschner justificava suas ideias citando o que ocorria pelo mundo. “Se queremos enfrentar as empresas multinacionais instaladas nos países em desenvolvimento, não é com pequenas empresas que vamos poder realmente realizar uma concorrência e um verdadeiro serviço aos produtores associados das cooperativas”, afirmava. A essência do cooperativismo é a capacidade de aglutinação. É isto que o faz um sistema poderoso, multiplicador dos esforços individuais. Esta é a hora de exercitarmos este poder, de superarmos todos os obstáculos em favor da intercooperação.


Temos duas opções: ou nos tornamos fornecedores de matérias-primas ou assumimos as rédeas e tocamos a agroindústria cooperativa





RUI POLIDORO PINTO