quarta-feira, 2 de novembro de 2011

"BEM VINDA SEJAS, MINHA AMIGA, A MORTE"

Cesar Techio

Economista – Advogado

techio@concordia.psi.br



A morte não pode ser superada por uma história de fé e de crença na vida eterna. Mesmo porque, crença é sinônimo de dúvida, pois se a certeza existe, então, para que acreditar? Se um comunicador de uma rádio informa sobre a existência de um incêndio num bairro, por conta da credibilidade de quem falou e do meio de comunicação é possível acreditar que seja verdade. Mas, se você for até lá, ver o incêndio , sentir o seu calor e tocá-lo, para que acreditar e ter fé de que ele existe? Diante da realidade do fato a crença é absurda, dispensável, desnecessária. A certeza absoluta em Deus é o ponto em que cessam todas as angústias e medos, principalmente medo da morte. Se Deus existe, porque preciso acreditar, ter fé de que Ele existe? Uma grande fé tem a ver com uma grande dúvida, pois sem qualquer dúvida para que a crença? Assim é a morte. Se ela é certa ou se ela não existe sob a perspectiva da religião, para que o medo, a preocupação, a angústia? Quem vive intensamente, em plenitude e cheio de amor não tem tempo sequer para pensar na morte e, quando ela chega, é como uma amiga, uma irmã. Francisco de Assis, a beira da morte, exclamou: "Bem vinda sejas, irmã minha, a morte!" Tendo vivido intensamente, convidou os demais irmãos para cantarem o Cântico do Irmão Sol, ao qual acrescentou a última estrofe em louvor a Deus pela morte corporal.

"Altíssimo, onipotente, bom Senhor, teus são o louvor, a glória e a honra e toda bênção. A ti somente, Altíssimo, são devidos e homem algum é digno de te mencionar. Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o irmão sol que, com luz, ilumina o dia e a nós. E ele é belo e radiante com grande esplendor: de ti, Altíssimo, carrega significação. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã luz e as estrelas, no céu as formaste claras e preciosas e belas. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento e pelo ar, pelas nuvens e todo o tempo pelo qual dás sustento às tuas criaturas. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água que é muito útil e humilde e preciosa e casta. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo pelo qual iluminas a noite e ele é belo e jucundo e robusto e forte. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa mãe terra que nos sustenta e governa e produz diversos frutos com coloridas flores e ervas. Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam por teu amor e suportam enfermidades e tribulações. Bem aventurados aqueles que sustentam a paz porque por ti, Altíssimo, serão coroados. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa morte corporal da qual nenhum homem vivente pode escapar. Infelizes aqueles que morrem em pecado mortal; bem-aventurados aqueles que se encontram em tua santíssima vontade porque a morte segunda não lhes fará mal. Louvai e bendizei a meu Senhor e agradecei e servi-o com grande humildade."

Nascemos nus e desta terra nada levaremos. Bem no finalzinho, antes de morrer, Francisco de Assis pediu para que o deixassem nu sobre a terra e disse aos seus confrades: "Fiz o que tinha que fazer. Que Cristo vos ensine o que cabe a vós. O Santo Evangelho é mais importante que todas as demais instituições". Como não bastasse, animou o seu médico falando: "Irmão médico, dize com coragem que a minha morte está próxima. Para mim, ela é a porta para a vida!"

Neste belíssimo dia dos finados, pensemos nisso. Reflitamos na certeza da misericórdia de Deus e no viver totalmente, em plenitude no aqui e agora, sem preocupações com a morte, que é certa. O amanhã cuida de si mesmo, ou no dizer de Jesus: "Senhor, dai-nos hoje o pão nosso de cada dia". Ele não pede para amanhã, para o mês que vem. Pede somente para o dia de hoje, que é mais do que o suficiente.

Pensamento da semana: "Enquanto Deus é Deus, enquanto Ele é o vivente e a Fonte de toda a vida, eu não morrerei, ainda que corporalmente morra!" Leonardo Boff.