Na foto, reconheço Adolpho Bosio, Angelo Spricigo, Paulo Fontana (Pauleto) e sua esposa Disolina
Foto Frei Cassiano.
Em quinze de novembro de 1925, os primeiros colonos da atual paróquia
de Concórdia, no Estado de Santa Catarina, abriam à foice, a machado e a
facão um lugar na mata para nele se construir uma capelinha.
Ao tratar-se da construção da primeira capelinha em pleno sertão, os
primitivos colonos pretendiam dar-lhe por orago a Santo Antônio, o
grande taumaturgo. Entretanto, ao que parece, Nossa Senhora, sob o
título da Imaculada Conceição, ínclita padroeira da Província
Franciscana sul-brasileira, reservara para si a proteção especial desse
abençoado torrão, tão abundantemente regado pelo suor, pelas fadigas,
pelas canceiras de uma falange de intrépidos missionários franciscanos,
os quais, desde 1902, vinham percorrendo aquele ínvio sertão,
espargindo, sob inúmeros sacrifícios e perigos, a semente evangélica.
Porquanto, numa reunião de colonos, ficou unanimemente resolvido
consagrar a futura capelinha à Nossa Senhora do Rosário, encontrando-se
no momento um benfeitor que prometera custear as despesas com a
aquisição da imagem respectiva.
De fato, desmatado o terreno, deu-se início à construção da capelinha
a 3 de abril de 1926, numa colina, nas proximidades do rio dos
Queimados, capelinha essa de madeira que por vários anos, isto é, até à
construção da definitiva matriz de alvenaria, serviu de presbitério e
que foi, em breve, ornada da expressiva imagem de Nossa Senhora do
Rosário.
Os padres franciscanos, que vinham missionando aquele sertão com um
zelo e dedicação que bem mereceriam uma página de história das missões,
encontravam agora, em suas visitas, uma capelinha onde antes era mata
espessa.
A colonização foi tomando impulso. Localizaram-se em torno da capela e
na vasta zona do rio dos Queimados novos moradores, tanto assim que a
primitiva igrejinha teve de ser aumentada para poder conter os fiéis que
afluíam de toda a parte por ocasião da visita do sacerdote franciscano.
A autoridade eclesiástica não perdeu de vista a futurosa região. Os
missionários franciscanos amiudavam suas visitas até que o próprio bispo
de Lages, dom frei Daniel Hostin, ofm, foi visitá-la em 18 de janeiro
de 1930.
Em dezembro de 1931, o então visitador geral frei Lucas Koch, ofm,
inspecionou pessoalmente a zona de Concórdia, ficando persuadido da
necessidade da fundação, ali, de uma paróquia, prometendo ao povo de
advogar o desideratum dos católicos de Concórdia perante quem de
direito.
Em 26 de maio de 1932, o povo concordiense teve a felicidade de poder
tomar parte na primeira procissão eucarística que se fez na localidade.
Pois, na festa de Corpus Cristi, percorreu as ruas principais de
Concórdia solene procissão eucarística ao troar dos morteiros, ao
espoucar dos foguetes, aos cânticos do povo piedoso. Foi dada a bênção
sacramental nos quatro cantos da praça Santos Dumont, fronteiriça à
capela, praça essa, onde existiam ainda os tocos de árvores abatidas a
atestar a tenacidade de um povo progressista que, em poucos anos,
transformara um pedaço de sertão em aprazível e laboriosa colônia.
Em 1° de junho de 1932, o então provincial frei Felipe Niggemeier,
ofm, visitou a sede Concórdia, onde por delegação do excelentíssimo e
reverendíssimo senhor bispo diocesano administrou o santo sacramento da
crisma a mais de duas centenas de pessoas.
Em 24 de outubro de 1932, o povo iniciou a construção da canônica, futura residência dos franciscanos.
Nascimento da Paróquia – Em 24 de novembro 1932, durante a visita
pastoral que sua excelência reverendíssima fez a Concórdia, dom Daniel
Hostin, ofm, mandou publicar o decreto da ereção oficial da paróquia de
Nossa Senhora do Rosário.
Em suas visitas espaçadas, nunca coincidira, até ali, que pelas
solenidades do santo Natal houvesse um sacerdote em Concórdia. Em 1932,
todavia, pela vez primeira, comemorou-se, ali, o santo Natal com as três
missas da liturgia. Animados por este fato inédito, de todos os cantos e
recantos da freguezia acorreram os fiéis para assistir aos atos
religiosos e ver o minúsculo presépio, armado na matriz, emprestado de
um colono, que o trouxera das colônias velhas do Estado do Rio Grande do
Sul. Pois, a novel paróquia não possuía, então, presépio próprio. Por
esta mesma solenidade, o povo organizara uma festa popular em benefício
da residência dos padres franciscanos que, naquela época, continuava em
obras.
Amiudando as visitas à recente freguesia de Concórdia, e demorando
mais tempo na sede, em 1933, celebrou-se, do modo então possível, pela
vez primeira, a semana santa, com enorme concorrência. Após a Páscoa,
percorríamos o perímetro urbano, benzendo as casas, em número de 34,
naquele tempo, o total das famílias residentes na sede distrital de
Concórdia.
Este rápido esboço histórico bem demonstra o surto maravilhoso de uma
zona sertaneja que, acompanhando “pari passu” o progresso material e
espiritual, se tornou credora da mais franca admiração.
O espírito de sacrifício, o zelo apostólico dos missionários
franciscanos fizeram brotar, no meio do sertão, com o correr dos anos,
uma paróquia, centro de vida religiosa que já deu e dará frutos ótimos
no mirífico campo das almas.
Na qualidade de pró-vigário, o obscuro escrevinhador destas linhas
encontrou, ainda, os vestígios daquelas dificultosas picadas, por onde
transitaram os primeiros padres franciscanos, no seu múnus
evangelizador. Ouviu dos primitivos moradores sobreviventes referir dos
ingentes esforços e dos grandes perigos por que passaram aqueles
abnegados missionários.
Não raras vezes, o articulista, vendo-se à margem de precipícios
escancarados; à beira de rios e lageados enfurecidos pelas enchentes; no
meio de toda a espécie de vicissitudes, rememorou, com real veneração, o
quanto deveriam ter sofrido aqueles bravos missionários, no perpassar
de trinta longos anos, no árduo desempenho de evangelizar aquelas zonas
sertanejas, que, afinal, desabrocharam para a civilização cristã,
conquistadas para o lábaro sacrossanto da Redenção nesta gloriosa Terra
de Santa Cruz!…
Frei Benvindo Destéfani, O. F. M.; In VITA FRANCISCANA 16. JAHRGANG September 1939 NUMMER 3 – p 343-345