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quarta-feira, 4 de janeiro de 2017
E ASSIM NASCEU A PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, EM CONCÓRDIA SC
Na foto, reconheço Adolpho Bosio, Angelo Spricigo, Paulo Fontana (Pauleto) e sua esposa Disolina
Foto Frei Cassiano.
Em quinze de novembro de 1925, os primeiros colonos da atual paróquia de Concórdia, no Estado de Santa Catarina, abriam à foice, a machado e a facão um lugar na mata para nele se construir uma capelinha.
Ao tratar-se da construção da primeira capelinha em pleno sertão, os primitivos colonos pretendiam dar-lhe por orago a Santo Antônio, o grande taumaturgo. Entretanto, ao que parece, Nossa Senhora, sob o título da Imaculada Conceição, ínclita padroeira da Província Franciscana sul-brasileira, reservara para si a proteção especial desse abençoado torrão, tão abundantemente regado pelo suor, pelas fadigas, pelas canceiras de uma falange de intrépidos missionários franciscanos, os quais, desde 1902, vinham percorrendo aquele ínvio sertão, espargindo, sob inúmeros sacrifícios e perigos, a semente evangélica.
Porquanto, numa reunião de colonos, ficou unanimemente resolvido consagrar a futura capelinha à Nossa Senhora do Rosário, encontrando-se no momento um benfeitor que prometera custear as despesas com a aquisição da imagem respectiva.
De fato, desmatado o terreno, deu-se início à construção da capelinha a 3 de abril de 1926, numa colina, nas proximidades do rio dos Queimados, capelinha essa de madeira que por vários anos, isto é, até à construção da definitiva matriz de alvenaria, serviu de presbitério e que foi, em breve, ornada da expressiva imagem de Nossa Senhora do Rosário.
Os padres franciscanos, que vinham missionando aquele sertão com um zelo e dedicação que bem mereceriam uma página de história das missões, encontravam agora, em suas visitas, uma capelinha onde antes era mata espessa.
A colonização foi tomando impulso. Localizaram-se em torno da capela e na vasta zona do rio dos Queimados novos moradores, tanto assim que a primitiva igrejinha teve de ser aumentada para poder conter os fiéis que afluíam de toda a parte por ocasião da visita do sacerdote franciscano.
A autoridade eclesiástica não perdeu de vista a futurosa região. Os missionários franciscanos amiudavam suas visitas até que o próprio bispo de Lages, dom frei Daniel Hostin, ofm, foi visitá-la em 18 de janeiro de 1930.
Em dezembro de 1931, o então visitador geral frei Lucas Koch, ofm, inspecionou pessoalmente a zona de Concórdia, ficando persuadido da necessidade da fundação, ali, de uma paróquia, prometendo ao povo de advogar o desideratum dos católicos de Concórdia perante quem de direito.
Em 26 de maio de 1932, o povo concordiense teve a felicidade de poder tomar parte na primeira procissão eucarística que se fez na localidade. Pois, na festa de Corpus Cristi, percorreu as ruas principais de Concórdia solene procissão eucarística ao troar dos morteiros, ao espoucar dos foguetes, aos cânticos do povo piedoso. Foi dada a bênção sacramental nos quatro cantos da praça Santos Dumont, fronteiriça à capela, praça essa, onde existiam ainda os tocos de árvores abatidas a atestar a tenacidade de um povo progressista que, em poucos anos, transformara um pedaço de sertão em aprazível e laboriosa colônia.
Em 1° de junho de 1932, o então provincial frei Felipe Niggemeier, ofm, visitou a sede Concórdia, onde por delegação do excelentíssimo e reverendíssimo senhor bispo diocesano administrou o santo sacramento da crisma a mais de duas centenas de pessoas.
Em 24 de outubro de 1932, o povo iniciou a construção da canônica, futura residência dos franciscanos.
Nascimento da Paróquia – Em 24 de novembro 1932, durante a visita pastoral que sua excelência reverendíssima fez a Concórdia, dom Daniel Hostin, ofm, mandou publicar o decreto da ereção oficial da paróquia de Nossa Senhora do Rosário.
Em suas visitas espaçadas, nunca coincidira, até ali, que pelas solenidades do santo Natal houvesse um sacerdote em Concórdia. Em 1932, todavia, pela vez primeira, comemorou-se, ali, o santo Natal com as três missas da liturgia. Animados por este fato inédito, de todos os cantos e recantos da freguezia acorreram os fiéis para assistir aos atos religiosos e ver o minúsculo presépio, armado na matriz, emprestado de um colono, que o trouxera das colônias velhas do Estado do Rio Grande do Sul. Pois, a novel paróquia não possuía, então, presépio próprio. Por esta mesma solenidade, o povo organizara uma festa popular em benefício da residência dos padres franciscanos que, naquela época, continuava em obras.
Amiudando as visitas à recente freguesia de Concórdia, e demorando mais tempo na sede, em 1933, celebrou-se, do modo então possível, pela vez primeira, a semana santa, com enorme concorrência. Após a Páscoa, percorríamos o perímetro urbano, benzendo as casas, em número de 34, naquele tempo, o total das famílias residentes na sede distrital de Concórdia.
Este rápido esboço histórico bem demonstra o surto maravilhoso de uma zona sertaneja que, acompanhando “pari passu” o progresso material e espiritual, se tornou credora da mais franca admiração.
O espírito de sacrifício, o zelo apostólico dos missionários franciscanos fizeram brotar, no meio do sertão, com o correr dos anos, uma paróquia, centro de vida religiosa que já deu e dará frutos ótimos no mirífico campo das almas.
Na qualidade de pró-vigário, o obscuro escrevinhador destas linhas encontrou, ainda, os vestígios daquelas dificultosas picadas, por onde transitaram os primeiros padres franciscanos, no seu múnus evangelizador. Ouviu dos primitivos moradores sobreviventes referir dos ingentes esforços e dos grandes perigos por que passaram aqueles abnegados missionários.
Não raras vezes, o articulista, vendo-se à margem de precipícios escancarados; à beira de rios e lageados enfurecidos pelas enchentes; no meio de toda a espécie de vicissitudes, rememorou, com real veneração, o quanto deveriam ter sofrido aqueles bravos missionários, no perpassar de trinta longos anos, no árduo desempenho de evangelizar aquelas zonas sertanejas, que, afinal, desabrocharam para a civilização cristã, conquistadas para o lábaro sacrossanto da Redenção nesta gloriosa Terra de Santa Cruz!…
Frei Benvindo Destéfani, O. F. M.; In VITA FRANCISCANA 16. JAHRGANG September 1939 NUMMER 3 – p 343-345
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