sábado, 7 de abril de 2018

FUNDAMENTOS PARA UMA BOA POLÍTICA

 


      Cesar Techio 
       Economista – Advogado

A grande tradição do evangelho de Jesus Cristo tem sua base na opção preferencial pelos pobres, sendo esta, a pedra fundamental e histórica pela qual devem se orientar, disciplinar e viver no dia a dia, todos aqueles que aceitam o Espírito Santo em suas vidas.

A prosperidade individual não tem muito sentido se não for socializada, compartilhada com os que sofrem e trilham o calvário das necessidades. A compaixão e a caridade devem ser os grandes valores que impulsionam todos os cristãos, de todas as igrejas.

Essa atitude é muito mais do que uma manifestação religiosa, mas ética e moral, na medida em que, verdadeiros cristãos não podem aceitar o gigantesco sofrimento do povo sob o pálio da humilhante miséria gerada pelo desemprego, concentração de riquezas e rendas nas mãos de poucos. Não existe verdadeira conversão sem que vejamos Jesus no pobre e sem que assumamos a causa da pobreza como uma questão prioritária e de promoção de justiça (Mt 25, 31-46; Lc 10, 29-37; Lc 12, 33-34). Deus ama preferencialmente os pobres, não por mérito deles, mas porque são necessitados (Lc 15, 1-24).

A causa da miséria tem sua gênese na opressão econômica e esta tem sua causa na ausência de uma ação política inteligente, corajosa e comprometida com a justiça social. Toda conversão autêntica exige práticas de libertação, de solidariedade e de partilha, mesmo porque decisões governamentais em favor do desenvolvimento são insuficientes para superar o problema da pobreza. É necessário, prioritariamente, mudar as estruturas que oprimem o pobre, vendo o mundo, sob a sua perspectiva.

Não se trata, certamente, de misturar política e religião, uma vez que é necessário separar a fé do fundamentalismo (redução da vida à religião), a fim de não incorrer nos equívocos de alguns países islâmicos que promovem estados religiosos onde tudo se mistura e confunde.
 
O ensaio que propõe articulação entre vivência cristã e política de Estado, passando obviamente pela política partidária, tem a ver com postura pessoal e com viver o reino de Deus, já aqui nesta terra, por meio de projetos que privilegiem uma correta distribuição de renda, respeito pelo meio ambiente, defesa por uma vida digna aos trabalhadores, com salários justos, habitação, saúde, educação.

Estas ideias são, acima de tudo, cristãs e não podem ser consideradas reserva de mercado de uma ou outra igreja, religião, segmento cristão. A própria doutrina social da igreja católica, lapidada em algumas Encíclicas Papais se constituem em paradigma de defesa de ações políticas como forma de construir estruturas sociais e econômicas justas. Todo bom político deveria ler estes documentos, verdadeiros projetos humanitários que buscam aproximar este mundo do Reino de Deus. A começar pela “Rerum Novarum” divulgada pelo Papa Leão XIII, em 1889, seguida da “Anus Quadragesimus” do Papa Pio XI, depois a “Populorum Progressio” do Papa Paulo VI e, finalmente, a “Laborem Exercens” e a “Centesimus Anus” do Papa João Paulo II.

Importa afirmar que, uma fé restrita a mera espiritualidade, desvinculada de valores éticos, humanitários e de práticas cristãs efetivas, se torna ambígua e deve ser superada. Essa superação, com a devida vênia, pode encontrar caminhos, entre outros, através de uma política coerente, honesta e voltada a projetos sociais relevantes. A ideologia da prosperidade em favor de opções temporais meramente privadas ou de interesses individuais é contraditória. A graça do Espírito Santo, que muda a história dos que o recebem exige, não só abertura ecumênica, visão interconfessional, respeito por todos os credos e religiões, mas, muito especialmente, um compromisso concreto com ações políticas de prosperidade econômica voltadas ao progresso de todos os que vivem em sociedade

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