Cesar Techio
Economista – Advogado
Não raras vezes me ocorre a figura do burro andando
atrás de uma espiga de milho amarrada à sua frente. A ideia do dono é fazê-lo
andar e transportar no lombo pesada carga para enriquecer à custa da ilusão do
animal de que um dia alcançará o alimento. Para muitas pessoas, certas
religiões são como o milho e são buscadas por puro desejo de obter algo em
troca, como prosperidade (dinheiro, bens materiais), saúde, paz de espírito ou
até mesmo o céu. Outras pessoas buscam algumas religiões por medo do inferno,
do diabo e de maldições. Mas, não são raras as religiões inventadas por pessoas
muito espertas, treinadas em lógica, filosofia, teologia, metafísica, oratória
e, interessadas em ganhar dinheiro. Embora a bíblia diga que Deus fez o homem a
sua imagem e semelhança, constantemente percebemos que é exatamente o inverso:
as necessidades, psicológicas, emocionais e financeiras criam na cabeça das
pessoas um Deus para satisfazê-las. A psicologia da fé é a base da segurança
para a maioria das pessoas que não podem viver sem algum tipo de crença ou sem
pedir alguma coisa.
Desta imaturidade, se aproveitam espertalhões que
constroem igrejas, como verdadeiras fábricas sem chaminé. Elas funcionam como
uma espécie de quitanda, um comércio que acolhe, no caminho da existência,
pessoas desesperadas, envolvidas por solidão, descaminhos, misérias,
descalabros e múltiplas mazelas. São templos de psicologia, de shows
psicodélicos, de oratórias flamejantes e de técnicas de comunicação emocionais
bíblicas, verdadeiras ferramentas de convencimento. Mas, inaptas para tocar
profunda e permanentemente a vida das pessoas. Causam impacto por certo tempo,
mas nada mais são do que portadoras de pregações ornamentais, preparadas para
arrecadar dinheiro, um verdadeiro comércio mundano na cara das pessoas que vão
ao Templo para buscar Deus e orar.
Celebrar a presença de Deus em todas as
circunstâncias, com plena confiança e certeza de Sua presença, dispensa a fé
comercial que engorda os cofres dos vendilhões dos templos. Neste sentido, é
exemplar a revolta do Papa Francisco com a questão do dinheiro: "Mas, o
que Jesus tem contra o dinheiro? É que a redenção é gratuita. A gratuidade de
Deus é trazida por Ele, a gratuidade total do amor de Deus. E quando a Igreja
se torna exploradora, se diz que a salvação não é tão gratuita”. E acrescenta:
“Deus não tem nada a ver com dinheiro. A igreja não pode ser
"exploradora" ou vender a salvação”. Enfim, é preciso acima de tudo
preocupar-se em cuidar dos outros, cultivar a solidariedade, conviver em
fraternidade, participar de instituições religiosas ou laicas que possuam
atividades caritativas, como meios necessários para encontrar Deus e, ao mesmo
tempo abandonar as neuroses de igrejas que pregam a salvação como um lucrativo
negócio.
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