Cesar Techio
Economista – Advogado
cesartechio@gmail.com.br
A ideia de
supressão dos partidos políticos não se alinha com a necessária representação
pelas demandas sociais que só podem ocorrer através de modelos de
representatividade organizadas, ou seja, através de partidos políticos. A
vontade de diminuir ou de mitigar o peso da influencia dos partidos sobre a
vida política do país e dos cidadãos anda na contramão de soluções organizadas
que podem viabilizar o alargamento das margens de participação popular no que
realmente interessa: decisões partidárias que se refletem nas decisões dos
representantes do povo. Candidaturas livres e sem fiscalização partidária que
imponha a obrigação de fidelidade aos compromissos assumidos em campanha,
tendem a se firmar como aventuras por trás das quais sempre existirão grupos
específicos de interesses coorporativos, livres das amarras disciplinares,
principiológicas, filosóficas e doutrinárias dos partidos políticos. Sem os
partidos políticos é impossível estabelecer, de forma viável, padrões de
racionalidade baseados no cumprimento das obrigações com a população.
Se, os movimentos de rua expressam demandas de conteúdos variados, como por
exemplo, morais, políticos, econômicos, culturais, etc., também é preciso
considerar que estes valores já se encontram normatizados, na condição de
princípios, na própria Constituição Federal. São valores positivados, na
condição de normas pétreas que devem obrigatoriamente dirigir a vida do país e
dos cidadãos. Ora, os gritos dos cidadãos em frenético movimento pelas ruas,
aqui no Brasil, apenas reproduzem os gritos da própria Constituição, a qual
apresenta programas e objetivos que impõem a concretização destes valores em
favor da dignidade humana no dia a dia da vida do povo.
Na realidade, são direitos fundamentais que exigem a realização de um modelo de
democracia que deve valorizar mais o seu componente substancial e menos o
formal, como meio de concretização. Os gritos de ordem das massas, assim como
os princípios constitucionais gritados pela Constituição Federal, também exigem
uma democracia participativa, ajustada a cada situação e legitimada pela
vontade popular em eleições livres, ordenadas e disciplinadas. Esta
participação somente pode ocorrer quando os cidadãos que integram os
movimentos, também participarem dos partidos políticos na condição de fermento
de qualidade moral e ética, inseridos na massa da política representativa. Esta
solução pode fazer a diferença na construção de partidos políticos mais
empenhados na efetividade dos princípios constitucionais. A filiação partidária
é expressão ímpar de cidadania e a participação popular nos partidos políticos,
(com a mesma disposição que se observa nos protestos de rua) é o caminho mais
eficiente para mudar os rumos da vida política no país. Afirmar que a política
é suja e que os políticos são sujos (porque realmente muitos são mesmo) e
simplesmente permanecer no estágio de protesto de rua é muito pouco para mudar
o Brasil. Suprimir o sistema de representação partidária, nesta linha, é um
verdadeiro tiro na água. A verdade é que não adianta jogar a massa fora.
É preciso colocar fermento nela para que cresça em qualidade, efetividade
ética, honestidade, moral e sacie a fome por justiça social. A habilidade
para lidar com as diferenças geradoras de conflitos de classe, de
desequilíbrios econômicos, de concentração de renda, de misérias e carestias é
o primeiro desafio exigido das pessoas que participam dos movimentos populares.
Serem fermento na massa é o segundo.
Pensamento da semana: Filiar-se a um partido político
para fazer a diferença. Eis a questão.
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