quarta-feira, 25 de março de 2015

ROQUE LAUSCHNER: TOME MAIS UM MATE.





Cesar Techio
Economista – Advogado

  
     Aqui no sul é costume tomar chimarrão logo cedinho. Acostumei-me ao hábito da cuia, pelos gabinetes de trabalho do antigo Centro de Documentação e Pesquisa da Unisinos. De mão em mão e nas reuniões de trabalho com Roque Lauschner, Jose Odelso Schneider, Jose Ivo Follmann, Jose Renato Soethe, o fundador Pedro Calderan Beltrão (cantava forte, cantava alto em sua última visita à antiga sede), Alcido Arnold, Marco Antonio Fetter entre outros, estranhei, quando pela primeira vez me ofereceram aquela imensa cuia gaúcha, de porongo, recheada de erva verde.  Depois da dificuldade da primeira tomada (que parecia não ter fim), concentrado no que se discutia naquela imensa mesa da sala de reuniões, o amargo do chimarrão, de mansinho foi se tornando doce. O Cedope da Unisinos não existe mais e seu ex-diretor, Pe. Roque Lauschner SJ, há muitos anos foi participar das rodas de chimarrão celestiais com seu amigo, ex-reitor da Unisinos, Pe. Herbert Ewaldo Wetzel. Às vezes me surpreendo com o olhar perdido na cuia de chimarrão matutino, aqui no escritório de advocacia, recordando daquelas reuniões que se desdobravam em pesquisas e ações por todo o Brasil e em alguns países da América Latina. 

  No centro de todas as discussões, propostas, reflexões e projetos, a ideia básica era a de que a agroindústria cooperativa se constituía no principal agente de fortalecimento das microrregiões do país, o caminho principal de fixação do homem no campo e a que mais viabilizaria a geração de renda e emprego. Sobre a agricultura familiar a preocupação latente pairava em torno de várias perguntas, como por exemplo, as publicadas numa resenha de 1994, da lavra de meu amigo: “Há duas formas de as explorações familiares se inviabilizarem: 1) manter baixos níveis de produtividade (do fator trabalho e capital e dos insumos) a nível de exploração; 2) não integrar-se em complexos rurais (ou cadeias produtivas) eficientes. A pergunta que poderia ser feita é a seguinte: Em que medida o cooperativismo poderia ser uma das formas de organização que viabiliza a agricultura familiar? Até que ponto o cooperativismo pode modernizar a administração das explorações rurais e tornar eficiente o complexo rural de cada produto, maximizando os resultados para a agricultura familiar? Se no ano 2028 os que armazenam, processam e distribuem alcançam 81,6% do valor do complexo rural mundial, pode o cooperativismo beneficiar os produtores familiares?” 

Na minha despedida, enquanto tomávamos as últimas cuias de chimarrão, conversamos animadamente sobre uma forma de continuar colaborando com alguns projetos do Cedope. Aproximando-se o momento de partir, quando já alcançava a porta de saída, Roque Lauschner me disse: “Pra que a pressa? Tome mais um mate”.

Pensamento da semana: “A saudade eterniza a presença de
quem se foi. Com o tempo esta dor se aquieta, se transforma em silêncio que espera, pelos braços da vida um dia reencontrar.”  Pe. Fabio de Melo