segunda-feira, 11 de março de 2019

1972


CHEGADA AO SEMINÁRIO   

                                          
Na extremidade do morro terminava o paralelepípedo e surgia uma estrada de terra esburacada e poeirenta que fazia o percurso Luzerna-Videira. No lado esquerdo erguia-se, reluzente, o hospital da vila, dirigido por irmãs religiosas. Não deu para pensar muito pois o coração pulou no peito de alegria: Veja mãe, o seminário, como é lindo!          
                  
Realmente, o sol matutino refletia nas paredes da enorme casa, espelhando seus raios de luz que vinham dar as boas-vindas.  Parecia mais um sonho ou uma pintura de parede, aquele imenso lugar plano, com quadras de esportes, piscina, flores dos mais diversos matizes, árvores frondosas, o prédio cor-de-vinho espelhado e as encostas onduladas dos morros, ao fundo, subindo até uns coqueiros encravados nas roças de milho, abanando ao vento suave e quente do verão.        
                                                                                         

Um seminarista veterano veio dar as boas vindas. Escolhi um armário nos fundos da rouparia. A mãe ajudou a arrumar a cama, última do imenso dormitório no terceiro andar. Fiquei entusiasmado com aquele salão imenso, todo iluminado, espaçoso e limpo, com cento e trinta camas bem conservadas, perfiladas em quatro filas.

No final da tarde a mãe partiu e fiquei ali, hirto, plantado, com meus treze anos, no centro de um jardim, perto da via que levava ao Convento, como uma flor murcha.

Lá de cima, provavelmente do dormitório, vinha solto o barulho da algaraviada...

Vi o veículo sumir, após o campo de futebol e passei a observar, meditabundo, o gado pastando placidamente num potreiro situado do outro lado da estrada, onde abaixo se espraiava, sereno, o Rio do Peixe.

Sozinho, mecanicamente, vou vendo com curiosidade, o novo cenário da vida. O hálito quente do final do dia, o perfume das rosas de um canteiro perto das escadarias, entrada colorida para o pátio frontal daquele encantador edifício construído pelo Frei Sérgio Hillesheim.

O tempo que se seguia projetava as nuvens passando sobre o verde do gramado e pela escadaria externa, colorida. As vacas mugiam no potreiro do outro lado da estrada e, enquanto alguém as chamava, “vámo pórco déo, começavam a se dirigir, preguiçosamente em direção da estrebaria onde a família do seu Cossa esperava para tirar o leite.

O som do sino da Igreja da Vila de Luzerna, repentinamente me acorda e sinto que treme manso pelas montanhas do além rio.

O sol agoniza no mato, acima da vila. O vermelho das nuvens se mistura ao amarelo das encostas e numa casinha, acima do cemitério da vila, uma luzinha se acende.

Um seminarista vem me chamar. Não ouviu a sineta tocar? Vamos jantar?

Era meados do mês de fevereiro do Ano da Graça de 1972.