CHEGADA AO SEMINÁRIO
Na extremidade do morro terminava o
paralelepípedo e surgia uma estrada de terra esburacada e poeirenta que fazia o
percurso Luzerna-Videira. No lado esquerdo erguia-se, reluzente, o hospital da
vila, dirigido por irmãs religiosas. Não deu para pensar muito pois o coração
pulou no peito de alegria: Veja mãe, o seminário, como é lindo!
Realmente, o sol matutino refletia nas
paredes da enorme casa, espelhando seus raios de luz que vinham dar as boas-vindas.
Parecia mais um sonho ou uma pintura de
parede, aquele imenso lugar plano, com quadras de esportes, piscina, flores dos
mais diversos matizes, árvores frondosas, o prédio cor-de-vinho espelhado e as
encostas onduladas dos morros, ao fundo, subindo até uns coqueiros encravados nas
roças de milho, abanando ao vento suave e quente do verão.
Um seminarista veterano veio dar as boas
vindas. Escolhi um armário nos fundos da rouparia. A mãe ajudou a arrumar a
cama, última do imenso dormitório no terceiro andar. Fiquei entusiasmado com
aquele salão imenso, todo iluminado, espaçoso e limpo, com cento e trinta camas
bem conservadas, perfiladas em quatro filas.
No final da tarde a mãe partiu e fiquei
ali, hirto, plantado, com meus treze anos, no centro de um jardim, perto da via
que levava ao Convento, como uma flor murcha.
Lá de cima, provavelmente do dormitório,
vinha solto o barulho da algaraviada...
Vi o veículo sumir, após o campo de
futebol e passei a observar, meditabundo, o gado pastando placidamente num
potreiro situado do outro lado da estrada, onde abaixo se espraiava, sereno, o
Rio do Peixe.
Sozinho, mecanicamente, vou vendo com curiosidade,
o novo cenário da vida. O hálito quente do final do dia, o perfume das rosas de
um canteiro perto das escadarias, entrada colorida para o pátio frontal daquele
encantador edifício construído pelo Frei Sérgio Hillesheim.
O tempo que se seguia projetava as
nuvens passando sobre o verde do gramado e pela escadaria externa, colorida. As
vacas mugiam no potreiro do outro lado da estrada e, enquanto alguém as
chamava, “vámo pórco déo, começavam a se dirigir, preguiçosamente em direção da
estrebaria onde a família do seu Cossa esperava para tirar o leite.
O som do sino da Igreja da Vila de Luzerna,
repentinamente me acorda e sinto que treme manso pelas montanhas do além rio.
O sol agoniza no mato, acima da vila. O
vermelho das nuvens se mistura ao amarelo das encostas e numa casinha, acima do
cemitério da vila, uma luzinha se acende.
Um seminarista vem me chamar. Não ouviu
a sineta tocar? Vamos jantar?
Era meados do mês de fevereiro do Ano da
Graça de 1972.